Cerca de 400 três-lagoenses estão infectados com o vírus da Aids e ainda não sabem
30% são jovens
O desejo de experimentar tudo à sua volta e a crença de que estão imunes aos riscos têm custado caro aos adolescentes. Entre os altos preços pagos por estes jovens está o assustador índice de contaminação pelo vírus HIV. Segundo Jessé Milanez dos Santos - membro no programa de IST/AIDS em Três Lagoas - os casos de infecção pelo vírus HIV no mundo diminuíram em 27%, enquanto no Brasil as estatísticas apontam um aumento de 10%.
Dentre a população que tem se infectado, cerca de 30% são jovens de 15 a 24 anos de idade.
"Nós temos percebido que os jovens não estão usando camisinha. Hoje, com a facilidade do sexo sem compromisso, sem um relacionamento sério, facilita ter uma relação; só que, infelizmente, o brasileiro não tem a cultura de prevenção - então acaba não usando a camisinha" - disse.
No total, são 1.000 pacientes com o HIV em tratamento no município. O Departamento de IST/AIDS informou que, aproximadamente 400 pessoas têm o vírus e não sabem por não apresentarem os sintomas.
"O índice aumentou de forma significativa. Nós temos também um aumento em outras DST’s e sífilis - que é epidemia notória no Brasil. Mas, os mais preocupantes para nós têm sido o HIV e a sífilis, principalmente no caso de gestantes" - ressalta.
Foram registrados 91 casos no ano de 2017 em Três Lagoas, sendo 59 homens e 32 mulheres. Somente em janeiro desse ano 10 novos pacientes desenvolveram a doença, contra cinco pessoas infectadas no ano passado. De 2014 para 2018 houve um aumento de 30% nos casos - não somente em HIV/AIDS – mas, também, em sífilis e outras IST.
Milanez explica que a incidência é maior entre os jovens do sexo masculino e homossexuais; mas, alerta que, independente da orientação sexual o uso da camisinha é indispensável.
"Existe a história de pegar o máximo de pessoas no carnaval – e... Pode pegar... Desde que use camisinha, que é, até agora, a única forma de se evitar a contaminação e infecção, tanto no sexo oral, sexo anal e sexo vaginal; não interessa a forma de sexo ou orientação sexual - deve-se usar sempre a camisinha" - afirma.
Educação Sexual
O Departamento de IST/AIDS é ativo no Programa de Saúde nas Escolas (PSE) que leva conscientização aos jovens dos 13 aos 19 anos, na tentativa de engajar os adolescentes nas ações de prevenção das IST/HIV-Aids e da gravidez nas escolas. O PSE foi criado em uma parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde; nele também é desenvolvido o SPE (Saúde e prevenção nas Escolas).
"Nós fazemos uma abordagem com os adolescentes que, preferencialmente, já iniciaram a atividade sexual não só relacionadas às IST – mas, também, à parte de gravidez e ao uso de álcool e outras drogas" - diz Milanez.
O colaborador revela que ainda existe uma resistência em distribuir os preservativos e inserir a educação sexual nas escolas. "Eu fui a uma escola no mês de dezembro, em 2017 e a coordenadora pediu para não distribuir as camisinhas, porque os pais achavam constrangedor e que seria uma forma de incentivar. O trabalho de prevenção deveria se iniciar em casa, dentro do núcleo familiar - e não inicia" - relembra.
Mesmo com o programa trabalhando nas escolas públicas, o departamento também inclui a promoção da saúde e de atividades de prevenção nas escolas privadas. A prioridade é trabalhar de forma contínua nas instituições com os adolescentes, de forma a promover a articulação de saberes com a participação de estudantes, pais, comunidade escolar e sociedade em geral.
"A maioria das escolas pede uma palestra. Nós vamos lá, damos a palestra uma vez no ano e voltamos no próximo ano; não é algo contínuo. Nós tentamos fazer diferente há uns quatro ou cinco anos; só que, mesmo assim, não há abertura nas escolas, por conta de carga horária" - disse.
De acordo com Milanez, apenas uma escola do município de Três Lagoas deu total abertura para os trabalhos do IST/HIV-AIDS. "Nós fizemos atividades durante um semestre inteiro com os alunos; pegamos os alunos da última série e fizemos um trabalho muito bacana" - revelou.
O próximo objetivo é tornar as escolas unidades de referência com a educação permanente e a capacitação dos profissionais da educação da Rede Pública em parceria com os profissionais da saúde.
"Nós temos visto alguns profissionais para trabalharem nessa capacitação e esperamos que 2018 seja um ano melhor. Que toda aquela dificuldade e tudo aquilo que encontramos de resistência anteriormente – agora, com essa parceria e com todo esse trabalho que pretendemos envolver - consigamos diminuir e abranger uma quantidade maior de adolescentes" - finaliza.
DIREITOS
Pela Constituição brasileira, as pessoas vivendo com HIV, assim como todo e qualquer cidadão brasileiro, têm obrigações e direitos garantidos; entre eles, estão a dignidade humana e o acesso à saúde pública; por isso, são amparados pela lei. O Brasil possui legislação específica quanto aos grupos mais vulneráveis ao preconceito e à discriminação como: homossexuais, mulheres, negros, crianças, idosos, portadores de doenças crônicas infecciosas e de deficiência.
Os tratamentos para as pessoas contaminadas com o vírus e que vivem em Três Lagoas são gratuitos. Isabel Cristina é assistente social no Programa Municipal IST/AIDS e no Serviço de Atenção Especial (SAE). Ela diz que os benefícios cobrem até consultas em outras cidades, entre outros direitos, como o da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) que é o BPC – Benefício de Prestação Continuada- e que algumas pessoas já conseguiram os próprios apartamentos; no entanto, existem critérios.
"Eles chegam até aqui e eu os encaminho para que tenham acesso a esses direitos. Já tiveram até mesmo pacientes que foram para Brasília; todas essas consultas são gratuitas. Hoje, a pessoa vivendo com HIV/AIDS tem muitos direitos. Elas também são encaminhadas para habitação e conseguem a LOAS; porém, a pessoa precisa estar bem debilitada para consegui-lo" - completa.
O Programa conta com um grupo de adesão, onde palestrantes discutem diversos temas sobre a importância do tratamento e do uso do preservativo. As mulheres que estão com HIV/AIDS e pretendem serem mães também são orientadas. "A mulher faz o tratamento corretamente, usa medicação e, a criança, ao nascer faz o tratamento também. Nos primeiros 45 dias o bebê toma a medicação e depois faz visitas periódicas às unidades especializadas" - explica.
O paciente passa por uma equipe e é atendido por enfermeiros, psicólogos, assistência social; são orientados a respeito de todos os direitos que podem recorrer. "Dependendo da condição e do caso, todos os benefícios são garantidos" - destaca.
Referência
Três Lagoas é referência microrregional no Programa IST-AIDS/HV, ou seja, atende pacientes não só do Município, mas também de Água Clara, Selvíria, Brasilândia, Santa Rita do Pardo e Bataguassu.
O atendimento é feito de segunda-feira à sexta-feira, das 7h às 11h e das 13h às 17h, em um imóvel alugado pela SMS, à Rua Bom Jesus da Lapa, número 1078, Centro, nas proximidades da antiga Escola do SESI; na sua minoria é pré-agendado, mas a maior demanda é livre e espontânea, conforme revelam os números de atendimento diário de pacientes, que gira em torno de 30 a 35.
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